25.8.06

Será que você me entende?

Estranho a veemência com que certas pessoas reagem à incorporação de palavras em inglês ao nosso vocabulário cotidiano. As últimas manifestações contrárias a tal prática foram dirigidas contra o Dicionário Hauaiss que ousou registrar várias dessas palavrinhas, devidamente aportuguesadas.
O português, especialmente o nosso português, é uma língua bela e rica. Mas, convenhamos, certas coisas são ditas com mais propriedade e clareza na língua de Sir William Sheakspeare. Principalmente, quando o assunto é tecnologia ou gestão de negócios. O mais óbvio dos exemplos é "marketing", impossível de traduzir com menos de 10 palavras em português.
Não estou defendendo nem justificando o pedantismo daqueles que enrolam a língua, num dialeto ininteligível para a maioria dos mortais, usando o inglês onde caberia tranqüilamente uma singela expressão brasileira. Esses estão condenados à pena máxima do isolamento, pois "quem não se comunica se estrumbica", como dizia o Chacrinha.
A xenofobia é anacrônica e inútil neste mundo de meu Deus, onde as fronteiras culturais são cada vez mais fluidas. Na prática, estamos presenciando, mais de 100 anos depois, a realização do sonho de Zamenhof, criador do esperanto, língua composta por uma mistura de palavras de todas os idiomas que serviria, segundo ele, para a comunicação internacional.

Que língua é essa?

"Quando eu era menino, adorava andar de bonde. Tênis branco, calça faroeste, pulôver azul-marinho, lá ia eu feliz da vida, atento a tudo, embalado pelo barulho das rodas sobre os trilhos. Bons tempos aqueles em que os guardas usavam apenas cassetete e a violência se limitava à troca de tabefes entre desafetos".
A frase aí de cima está escrita em puro português, certo? Nem tanto. Intencionalmente, usei palavras que, ao longo do tempo, fomos tomando emprestado de outras línguas. Quer ver? Bonde, tênis, faroeste e pulôver são formas aportuguesadas de bond, tennis, far west e pull-over, respectivamente. E o cassetete nada mais é do que casse-tête, expressão francesa que significa quebra-cabeça.

Desembuche

A língua é viva (em todos os sentidos) e está em mutação constante. O que é bom, ela digere, transforma, aprimora. O que não presta, ela cospe. Portanto, desembuche e use a língua sem nenhum pudor. A única coisa realmente importante é se fazer entender.

Um comentário:

Anônimo disse...

Êta coisa boa!! Adoro ler esse moço! Manda vê, Zé, sei que vc tem muita coisa interessante para nos contar. Bjão!