31.1.07

Uma jóia incompreendida

Os comentários que as leitoras Cláudia e Fugu F, pessoas pelas quais tenho imensa admiração, fizeram no post sobre o anúncio da Natan, me levaram a refletir mais uma vez sobre o quão difícil é a tarefa dos criadores de propaganda.

O sociólogo austríaco Gottfried Stockinger, de quem tive a honra de ser aluno, disse certa vez em uma das suas aulas algo mais ou menos assim: na comunicação, a compreensão é sempre improvável. Levada para dentro de uma agência de propaganda, isso significa que os criadores devem testar e retestar seus anúncios, a fim de evitar que eles não sejam adequadamente compreendidos.


Fugu F disse: "A idéia de que um homem endinheirado pode ter a mulher que quiser é muito pobre - e irreal." Concordo em parte com você, Fugu. A idéia é pobre, mas não é de todo irreal. Existe um determinado tipo de homem que pensa exatamente assim - e um determinado tipo de mulher que corrobora essa maneira de pensar - e o público alvo do anúncio é constituído exatamente por homens desse tipo. A propaganda não "inventa" o real. Apenas se apropria dele. A gente pode deplorar essa realidade, o criador do anúncio pode deplorar essa realidade (aliás, o anúncio pode até ter sido criado por uma mulher), mas se o objetivo do anúncio é fazer com que "homens endinheirados que acreditam que uma jóia cara é capaz de abrir as pernas de qualquer mulher" , o anúncio está correto e muito bem resolvido.

Cláudia perguntou: "Zé, quer dizer que vc só daria uma jóia a uma mulher se ela abrisse as pernas p vc, é?". Sei que a Cláudia quis apenas me provocar, mas vou responder mesmo assim. Não, Claudinha. Eu sou o maior mão de vaca. Não daria a joía nem se ela abrisse as pernas pra mim. Vale Michelin?

Falando sério, minha crítica não foi às mulheres que não se trocam por uma jóia, mas àquelas que vivem patrulhando a gente em nome do politicamentecorretismo.

12 comentários:

Carlos Emerson Junior disse...

Para reforçar o seu post, lembro esse caso do ganhador da mega-sena que foi assassinado aqui em Itaboraí. Ele era pobre e não tinha as pernas. Mas (será que vou ser leviano ?) casou com uma menina bem nova e bonitinha. Foi amor ? Desconfio que foi. Pelo dinheiro da mega-sena!
Acho isso mais comum do que a Fugu imagina.
Um grande abraço.

Anônimo disse...

Parabéns pelo título do seu post: o assunto é mesmo uma jóia incompreendida.

Nós, homens, quando oferecemos uma jóia ou outra coisa valiosa a uma mulher, não é normalmente para comprar sexo...

Quase sempre é para mostrar que o nosso amor é determinado, absoluto, decidido, valioso (mais que a jóia). Com isso, pretendemos valorizar a mulher e não humilhá-la.

(Se quisessemos "comprar" a mulher, simplesmente abririamos a carteira, e, exibindo algumas notas de dólar, perguntariamos: - Quanto você vale? Qual é o teu preço? Fala um número, vai...)

Eu já ofereci jóias e outras coisas valiosas a mulheres com quem tinha sexo, ou, se quiserem, amor. Muitas vezes. E então, ofereci não para que ela abrisse as pernas mais uma vez, mas sim para que a mulher tivesse a noção do valor que ela tinha para mim.

Por seu turno o anúncio é igualmente incompreendido por outro motivo: "o abrir as pernas tem um sentido ambíguo, é certo. Mas se for olhado com um olhar positivo, pode querer dizer:

"Presenteie a mulher que você ama, você só tem a ganhar com isso".

Fugu disse...

Mas, Zé, eu não impliquei exatamente com o anúncio - que, de fato, transmite a idéia que você ressalta e atinge exatamente o público que você aponta.
O que me causou espécie foi seu comentário final. Dizer que a mulher que implica com este anúncio não merece ganhar uma jóia é dizer que toda mulher está na posição da que só abre as pernas por dinheiro.
Não se trata de ser politicamente correta, mas só de estranhar ... Não combina com sua costumeira delicadeza e sensibilidade.

Fugu disse...

E, CêJunior, você acha que a perua que matou o milionário merecia uma jóia? rsssss

Claudia Pinelli® disse...

Justamente, Fugu..
O q estranhou não foi o fato do comercial em si, q como já havia dito, é muito criativo.. E sim o tipo de desdobramento q gerou e o comentário feito.. Esse sim, muito simplista e maniqueísta(a mulher q se ofende, não merece ganhar jóia, a q não, merece..??), pois coloca todas as mulheres em dois baús..
E discordo do título deste post..
A "jóia" não foi incompreendida(assim vc fere, Zé.. rs..) e sim contestada..
Na verdade, esse assunto poderia gerar vários posts e discussões...
E só p provocar..
Essa mulher q supostamente matou o cara da sena, essa sim, adoraria ganhar uma jóia p abrir as pernas.. E nem se ofenderia c esse comercial..
:oP

Bjos p tds.

josé alberto farias disse...

Touché!
Reconheço que a frase de fechamento daquele post não foi muito feliz.
Mas, meninas, por favor, não me levem tão a sério.

Anônimo disse...

Reconhece mal, Zé!

A frase está certíssima.

E toda esta celeuma só tem razão de ser por o tónus ser colocado do lado de quem recebe e não do lado de quem oferece.

Há pessoas boas oferecendo jóias, presenteando com amor, dedicação, carinho, amizade, fraternidade.

Quem recebe tem de interpretar o porquê e o sentido do presente.

Parece é que o problema é que, avaliando os comentários, quem recebe não se acha merecedor: "Quando a esmola é grande o pobre desconfia".

E se a jóia fosse um piercing genital, hã?...

Anônimo disse...

o pior h do mundo disse: "Presenteie a mulher que você ama, você só tem a ganhar com isso".

Vejam, GANHAR, a mulher se ganha, a mulher se fatura, a mulher é um produto. Assim a nossa sociedade, no seu inconsciente coletivo, enxerga a mulher, como um produto, isso não é uma crítica ao pior h do mundo, é somente um caso pontual de como a coisa é tratada.
Resumindo: Do ponto de vista social, no jogo sexual, os dois trasam, mas o homem ganha, a mulher perde, a mulher dá, o homem "come" ( quem "come" sai ganhando, assim se pensa), o homem conquista a mulher, um emprego, uma posição social, e etc, vejam que me refiro aos paralelos metafóricos. Essa é ou não é a mentalidade da nossa sociedade? E se eu estiver mentindo, que atirem pedras...

Que atirem pedras quem não acha que a mulher é maltratada com metáforas que as coloca como produto de apreciação masculina e o homem como consumidor.

Anônimo disse...

Bem... Quando eu falei em "ganhar" referia-me a ganhar o amor e a atenção da mulher, no âmbito de uma suposta relação amorosa, e não a mulher como um objecto consumível.

Que a mulher é apreciada pelo homem, não é novidade, sempre foi assim através dos tempos e sempre assim será; e toda a gente sabe que a beleza da mulher é utilizada umas vezes bem outras vezes exageradamente pela publicidade: normal, além de que há muitos profissionais publicitários do sexo feminino.

Para finalizar, se ser mulher não é fácil, ser homem não parece ser melhor:

a) Se oferece jóia a mulher é porque a quer comprar, é porque a olha como um produto de consumo;
b) Se recebe jóia de mulher, ai Jesus do Céu, que chulo! que proxeneta!

Parece que do seu "ponto de vista social", Poli, as mulheres agem sempre com sentimento e os homens sempre por interesse - o homem é vilão e a mulher é vítima, o homem é o lobo mau e a mulher o capuchinho vermelho.

Quanto ao sentido sexual, vou te contar um segredo, mas não fala para ninguém, hein?...

Deixa o povão falar... mas o que acontece realmente é que eles se comem um ao outro. Sabe por quê? - Ambos gozam e ambos adoram!

Carlos Emerson Junior disse...

Fugu, e Claudia vocês tem toda razão: a suposta mentora do assassinato do ganhador da mega-sena, pelo que já foi investigado, abria as pernas por muito menos do que uma jóia. Muitíssimo menos, aliás.
Foi apenas um exemplo que me ocorreu na hora, devido a repercusão do caso aqui no Rio.
Um beijão para as duas!

Claudia Pinelli® disse...

Beijos para o Zé e para o Ce..
Vcs são fantásticos.. ;oP

Anônimo disse...

VERDADE!
Quando se trabalha com publicidade, deve-se focar o público alvo, o que ele pensa, no que ele acredita, o que ele deseja ... quem cria deve desnudar-se do pré-conceito que tiver em relação à mensagem que estiver passando. Isto é um processo complicado (deixar de aldo valores, crenças, posturas políticas e pessoais ...), é tipo uma catarse? Criatividade é um processo muito delicado e complicado visto desta ótica.

É preciso ter este discernimento.
;-)